Textos para as questões de 1 a 5 : Texto I: Não Existe Pecado ao Sul do Equador Não existe pecado do lado de baixo do Equador Va...
Textos para as questões de 1 a 5:
Não Existe Pecado ao Sul do Equador
Não existe pecado do lado de baixo do
Equador
Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a
todo vapor
Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de
baixo
Que eu sou professor
Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá
Vê se me usa, me abusa, lambuza
Que a tua cafuza
Não pode esperar
(...)
A primeira vez que deparei com a máxima que encabeça este artigo foi ouvindo “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, de Chico Buarque e Rui Guerra. A canção, que fazia parte originalmente da peça “Calabar” (banida pela censura no início dos anos 70), ganhou vida própria na voz insinuante e melindrosa de Ney Matogrosso, como tema da novela “Pecado Rasgado”, da TV Globo, em 1978. Tempos de diástole. Anos mais tarde, voltei a tropeçar nela.
Curiosamente, a máxima aparecia em nota de rodapé de “Raízes do Brasil” (1936), obra-prima do historiador paulista (e pai de Chico) Sérgio Buarque de Holanda:
“Corria na Europa, durante o século 17, a crença de que aquém da linha do Equador não existe nenhum pecado: Ultra aequinoxialem non peccari. Barlaeus, que menciona o ditado, comenta-o, dizendo: ‘Como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios também separasse a virtude do vício’”.
(...)
Mas o que despertou o meu interesse pela máxima seiscentista não foi a mera paixão de antiquário - a curiosidade ociosa que impele o historiador de ideias ao encalço, por vezes febril, de uma genealogia recôndita¹. Foi a súbita percepção do uso diametralmente oposto que pai e filho - historiador e poeta - fizeram dela.
Aos olhos de Sérgio Buarque, a máxima tem conotação fortemente negativa. Ela reflete a realidade amarga do ambiente de desregramento, permissividade e egoísmo anárquico - os “desmandos da luxúria e da cobiça” de que fala Paulo Prado em “Retrato do Brasil” (1928) - criado pela aventura co- lonial europeia nos trópicos.
(...)
Na poética de Chico Buarque, porém, o sinal se inverte. A ausência da noção de pecado não reflete mais a nossa incapacidade secular de criar uma ética cívica e um Estado moderno - de estabelecer regras impessoais que tornem a nossa convivência menos vio- lenta, iníqua² e precária-, mas passa a ser vis- ta como a senha da realização terrena veda- da ao puritano -a busca do prazer sem peias³ e sem culpa no plano da afetividade pessoal.
Onde o historiador lamenta, o compositor festeja. A canção de Chico e Guerra nos convida a desfrutar o instante -”ubi bene, ibi patria” (“onde se está bem, aí é a pátria”) - e faz a celebração dionisíaca do excesso e da libidinagem.
¹recôndita: escondida, oculta.
²iníqua: Perversa, malévola; extremamente injusta.
³peias: embaraços, impedimentos, estorvos, empecilhos.
QUESTÃO 03
(ESPM 2019) Segundo Giannetti, autor do texto II, o filho Chico Buarque de Holanda, por meio do eu poético, teria uma visão diferente da do pai Sergio Buarque de Holanda a respeito do ditado.
Assinale a afirmação incorreta:
a) Sérgio teria uma visão pejorativa, já que aponta para a existência de um delírio coletivo de permissividade nos trópicos.
b) Chico teria uma visão exultante, já que cria um eu poético que convida ao desfrute de uma vida hedonística.
c) Sérgio constata, com lástima, a falta de regras num lugar onde tudo é permitido, onde impera lascívia e sensualidade.
d) Chico celebra a libertinagem, o comportamento sem freios, sem culpas, sem preocupação de transgressão religiosa.
e) Sérgio, embora crítico, indiretamente compartilha da visão europeia de divisão: mundo religioso e mundo não religioso.
QUESTÃO ANTERIOR:
- (ESPM 2019) Ao usar a expressão “Tempos de diástole” no texto II, o autor quis referir-se
PRÓXIMA QUESTÃO:
- (ESPM 2019) No texto II, na frase: “A primeira vez que deparei com a máxima que encabeça este artigo”, o uso do pronome demonstrativo “este” se deve ao fato de
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Prova ESPM 2019.2 com Gabarito
Texto I:
Não Existe Pecado ao Sul do Equador
Não existe pecado do lado de baixo do
Equador
Vamos fazer um pecado rasgado, suado, a
todo vapor
Me deixa ser teu escracho, capacho, teu cacho
Um riacho de amor
Quando é lição de esculacho, olha aí, sai de
baixo
Que eu sou professor
Deixa a tristeza pra lá, vem comer, me jantar
Sarapatel, caruru, tucupi, tacacá
Vê se me usa, me abusa, lambuza
Que a tua cafuza
Não pode esperar
(...)
Texto II
Ultra aequinoxialem non peccari
A primeira vez que deparei com a máxima que encabeça este artigo foi ouvindo “Não Existe Pecado ao Sul do Equador”, de Chico Buarque e Rui Guerra. A canção, que fazia parte originalmente da peça “Calabar” (banida pela censura no início dos anos 70), ganhou vida própria na voz insinuante e melindrosa de Ney Matogrosso, como tema da novela “Pecado Rasgado”, da TV Globo, em 1978. Tempos de diástole. Anos mais tarde, voltei a tropeçar nela.
Curiosamente, a máxima aparecia em nota de rodapé de “Raízes do Brasil” (1936), obra-prima do historiador paulista (e pai de Chico) Sérgio Buarque de Holanda:
“Corria na Europa, durante o século 17, a crença de que aquém da linha do Equador não existe nenhum pecado: Ultra aequinoxialem non peccari. Barlaeus, que menciona o ditado, comenta-o, dizendo: ‘Como se a linha que divide o mundo em dois hemisférios também separasse a virtude do vício’”.
(...)
Mas o que despertou o meu interesse pela máxima seiscentista não foi a mera paixão de antiquário - a curiosidade ociosa que impele o historiador de ideias ao encalço, por vezes febril, de uma genealogia recôndita¹. Foi a súbita percepção do uso diametralmente oposto que pai e filho - historiador e poeta - fizeram dela.
Aos olhos de Sérgio Buarque, a máxima tem conotação fortemente negativa. Ela reflete a realidade amarga do ambiente de desregramento, permissividade e egoísmo anárquico - os “desmandos da luxúria e da cobiça” de que fala Paulo Prado em “Retrato do Brasil” (1928) - criado pela aventura co- lonial europeia nos trópicos.
(...)
Na poética de Chico Buarque, porém, o sinal se inverte. A ausência da noção de pecado não reflete mais a nossa incapacidade secular de criar uma ética cívica e um Estado moderno - de estabelecer regras impessoais que tornem a nossa convivência menos vio- lenta, iníqua² e precária-, mas passa a ser vis- ta como a senha da realização terrena veda- da ao puritano -a busca do prazer sem peias³ e sem culpa no plano da afetividade pessoal.
Onde o historiador lamenta, o compositor festeja. A canção de Chico e Guerra nos convida a desfrutar o instante -”ubi bene, ibi patria” (“onde se está bem, aí é a pátria”) - e faz a celebração dionisíaca do excesso e da libidinagem.
(Eduardo Giannetti, economista, professor,
Folha de S.Paulo, 04 de março de 1999)
¹recôndita: escondida, oculta.
²iníqua: Perversa, malévola; extremamente injusta.
³peias: embaraços, impedimentos, estorvos, empecilhos.
QUESTÃO 03
(ESPM 2019) Segundo Giannetti, autor do texto II, o filho Chico Buarque de Holanda, por meio do eu poético, teria uma visão diferente da do pai Sergio Buarque de Holanda a respeito do ditado.
Assinale a afirmação incorreta:
a) Sérgio teria uma visão pejorativa, já que aponta para a existência de um delírio coletivo de permissividade nos trópicos.
b) Chico teria uma visão exultante, já que cria um eu poético que convida ao desfrute de uma vida hedonística.
c) Sérgio constata, com lástima, a falta de regras num lugar onde tudo é permitido, onde impera lascívia e sensualidade.
d) Chico celebra a libertinagem, o comportamento sem freios, sem culpas, sem preocupação de transgressão religiosa.
e) Sérgio, embora crítico, indiretamente compartilha da visão europeia de divisão: mundo religioso e mundo não religioso.
QUESTÃO ANTERIOR:
- (ESPM 2019) Ao usar a expressão “Tempos de diástole” no texto II, o autor quis referir-se
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- RESOLUÇÃO:
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- GABARITO:
- e) Sérgio, embora crítico, indiretamente compartilha da visão europeia de divisão: mundo religioso e mundo não religioso.
PRÓXIMA QUESTÃO:
- (ESPM 2019) No texto II, na frase: “A primeira vez que deparei com a máxima que encabeça este artigo”, o uso do pronome demonstrativo “este” se deve ao fato de
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Prova ESPM 2019.2 com Gabarito
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