Inovações técnicas, modismos e resoluções passageiras

Inovações técnicas, modismos e resoluções passageiras

Uma das curiosidades de viver no século XXI é ter como normal outras pessoas saberem muitos dos acontecimentos tanto quanto você. Isso se deve à tão conhecida era da informação, onde notícias trafegam na velocidade da luz, na palma da sua mão.

Mas trago um questionamento: é válido quando se começa a tomar uma decisão para diagnosticar e tratar uma doença, sugerir que tipo de material para fazer uma construção, ou se aventurar no mercado com um produto em alta, entre outras situações, se fundamentando em uma postagem de redes sociais, séries de TV ou canais do YouTube?

De uma maneira muito convicta, são criadas resoluções simples para situações muito específicas, mas distribuídas (para não dizer comercializadas) como se fossem uma receita de bolo para o sucesso.

Atrevo-me a supor que esse fenômeno é causado pelo grande desejo humano de deixar uma marca única, unida de uma competição imaginária para alcançar o sucesso profissional. 

O resultado? Artifícios prontos, que mais parecem uma massiva linha de produção, embutindo tudo em uma caixa, um PDF, ou um vídeo de como sua vida deve proceder e prosperar.

Pense um pouco a respeito agora. No momento atual da pandemia, existem mais e mais profissionais estudando, se aprofundando e promovendo conhecimento para confrontar o covid-19, sem pausar a luta contra outras doenças mais complexas, como câncer, diabetes e doenças cardíacas.

De um ponto de vista simples, a resolução para o Sars-CoV-2 poderia, em primeira tentativa, ser uma vacina. Para isso, há um esforço global, sendo que a descoberta do novo vírus tem pouco mais de um ano.

Em uma visão otimista, a previsão é de distribuição para a população até o fim de 2021 em alguns países desenvolvidos, se tudo ocorrer bem. Imagine em lugares onde a economia não é um ponto forte.

A reflexão que quero trazer é: se uma nova doença, que pode ser resolvida com uma vacina, está levando no mínimo dois anos para deixar de ser um problema maior, por que existiria uma solução rápida para todos os seus problemas?

Imagine agora que seu problema seja um transtorno depressivo. Mesmo hoje sendo bem conhecido, continua sendo complexo, porque não existe uma única forma de lidar, como aplicar uma vacina para prevenir e fazer uso de medicação para tratar totalmente. 

A era conectada encurtou a distância entre todos nós, ao mesmo tempo, a duração do dia, e a nossa paciência. Tudo tem que acontecer imediatamente, e, por isso, caso não tenha efeito rápido, vai prejudicar prioridades, é visto como não eficaz e outra medida rápida tem preferência.

As consequências para essas decisões podem ser desastrosas. Qualquer que seja o procedimento, para (re)construir com qualidade, leva-se apenas o tempo necessário e isso independe de cronologia. De outra forma, poderá tapar rachaduras de uma represa com silver tape.

Não estou dizendo que profissionais com diplomas são inquestionáveis donos do saber. Muito pelo contrário: todo conhecimento deve ser criticado e aprimorado.

Mas veja só, uma situação é alguém descobrir que um refrigerante serve para tirar ferrugem. Outra bem diferente é alguém divulgar que exercícios matinais específicos proporcionar sua felicidade, ou que investir em ações irá trazer rapidamente prosperidade financeira, etc.

Psicologicamente, o impacto de uma espinha no rosto tem dimensões diferentes entre você, eu e todas as pessoas neste planeta. O que nivela o tamanho delas é o significado dado ao problema. Ainda levando o exemplo em consideração, existem produtos divulgados garantindo efeitos milagrosos para obter um rosto impecável, mas, na prática, não é assim que acontece. 

Tal fato supracitado se dá pela diferença de pele, alergias, a forma do corpo absorver e reagir ao produto, estilo de vida, metabolismo, dentre vários outros fatores. O que irá trazer grandes resultados são as informações que se sabe entre o que está sendo utilizado e sobre você mesmo.

Seguindo esse pensamento, se você perguntar para um engenheiro, saberá que é realizado todo um estudo muito minucioso antes de iniciar qualquer obra. Da mesma forma, em vez de procurar várias soluções práticas de como melhorar sua própria vida, por que não conhecer mais sobre si, antes de se aventurar em tantas medidas alternativas?

Está virando uma obsessão a necessidade de acumular e criar o maior número de conteúdo, mas quando o assunto é conhecimento, parece que o “eu acho” é suficiente. Por isso temo o momento em que deixaremos de filtrar toda essa carga diária de informações, acreditando que a nossa capacidade de apreciar criticamente é uma  perca de tempo e passar apenas a replicar o que espalham por aí, como se fossem verdades absolutas, obscurecendo todo o legado deixado pelo Século das Luzes.

Por Manoel Cortez

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