Texto para as questões de 07 a 11 . O trecho abaixo é um fragmento do capítulo de abertura do romance Memórias póstumas de Brás Cubas ...
Texto para as questões de 07 a 11.
O trecho abaixo é um fragmento do capítulo de abertura do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.
Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. [...] Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.
QUESTÃO 08
Mackenzie 2020: Assinale a alternativa correta.
a) A publicação do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881, é considerada de maneira unânime pela crítica especializada como o marco inicial do Naturalismo na literatura brasileira.
b) Iracema, de José de Alencar, A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e Navio Negreiro, de Castro Alves, compartilham com Memórias Póstumas de Brás Cubas a mesma filiação literária.
c) Ao idealizar a realidade, o Realismo pouco se interessou pelos contextos econômicos dos seus personagens. Da mesma maneira, os escritores realistas deixaram de lado a reflexão sobre as relações entre as classes sociais.
d) Ao debater, no trecho que serve de base para essa questão, sobre as relações entre a vida e a morte, o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas flerta com o cientificismo de sua época, muito bem representado em um romance como O cortiço, de Aluísio Azevedo.
e) A presença de elementos fantásticos em Memórias Póstumas de Brás Cubas, a começar pela condição peculiar do seu narrador, nos impede de filiar o romance como um puro representante da estética realista.
QUESTÃO ANTERIOR:
- Mackenzie 2020: Assinale a alternativa correta.
RESOLUÇÃO:
Embora Memórias Póstumas de Brás Cubas inicie o Realismo no Brasil, em 1881, há nesse romance a presença de elementos fantásticos, já que o narrador é um defunto que, na campa, relata, sem manter a cronologia, o delírio que prededeu a morte e, logo após, os fatos de uma existência fútil, burguesa e entediante.
GABARITO:
e) A presença de elementos fantásticos em Memórias Póstumas de Brás Cubas, a começar pela condição peculiar do seu narrador, nos impede de filiar o romance como um puro representante da estética realista.
PRÓXIMA QUESTÃO:
- Mackenzie 2020: Considere as seguintes observações sobre a vida e a obra de Machado de Assis.
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Prova Mackenzie 2020 com Gabarito e Resolução
O trecho abaixo é um fragmento do capítulo de abertura do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.
CAPÍTULO PRIMEIRO / ÓBITO DO AUTOR
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo. Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no intróito, mas no cabo: diferença radical entre este livro e o Pentateuco.
Dito isto, expirei às duas horas da tarde de uma sexta-feira do mês de agosto de 1869, na minha bela chácara de Catumbi. Tinha uns sessenta e quatro anos, rijos e prósperos, era solteiro, possuía cerca de trezentos contos e fui acompanhado ao cemitério por onze amigos. Onze amigos! Verdade é que não houve cartas nem anúncios.
Acresce que chovia — peneirava uma chuvinha miúda, triste e constante, tão constante e tão triste, que levou um daqueles fiéis da última hora a intercalar esta engenhosa ideia no discurso que proferiu à beira de minha cova: — “Vós, que o conhecestes, meus senhores, vós podeis dizer comigo que a natureza parece estar chorando a perda irreparável de um dos mais belos caracteres que têm honrado a humanidade. Este ar sombrio, estas gotas do céu, aquelas nuvens escuras que cobrem o azul como um crepe funéreo, tudo isso é a dor crua e má que lhe rói à Natureza as mais íntimas entranhas; tudo isso é um sublime louvor ao nosso ilustre finado.”
Bom e fiel amigo! Não, não me arrependo das vinte apólices que lhe deixei. [...] Morri de uma pneumonia; mas se lhe disser que foi menos a pneumonia, do que uma ideia grandiosa e útil, a causa da minha morte, é possível que o leitor me não creia, e todavia é verdade. Vou expor-lhe sumariamente o caso. Julgue-o por si mesmo.
Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas
QUESTÃO 08
Mackenzie 2020: Assinale a alternativa correta.
a) A publicação do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, em 1881, é considerada de maneira unânime pela crítica especializada como o marco inicial do Naturalismo na literatura brasileira.
b) Iracema, de José de Alencar, A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, e Navio Negreiro, de Castro Alves, compartilham com Memórias Póstumas de Brás Cubas a mesma filiação literária.
c) Ao idealizar a realidade, o Realismo pouco se interessou pelos contextos econômicos dos seus personagens. Da mesma maneira, os escritores realistas deixaram de lado a reflexão sobre as relações entre as classes sociais.
d) Ao debater, no trecho que serve de base para essa questão, sobre as relações entre a vida e a morte, o narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas flerta com o cientificismo de sua época, muito bem representado em um romance como O cortiço, de Aluísio Azevedo.
e) A presença de elementos fantásticos em Memórias Póstumas de Brás Cubas, a começar pela condição peculiar do seu narrador, nos impede de filiar o romance como um puro representante da estética realista.
QUESTÃO ANTERIOR:
- Mackenzie 2020: Assinale a alternativa correta.
RESOLUÇÃO:
Embora Memórias Póstumas de Brás Cubas inicie o Realismo no Brasil, em 1881, há nesse romance a presença de elementos fantásticos, já que o narrador é um defunto que, na campa, relata, sem manter a cronologia, o delírio que prededeu a morte e, logo após, os fatos de uma existência fútil, burguesa e entediante.
GABARITO:
e) A presença de elementos fantásticos em Memórias Póstumas de Brás Cubas, a começar pela condição peculiar do seu narrador, nos impede de filiar o romance como um puro representante da estética realista.
PRÓXIMA QUESTÃO:
- Mackenzie 2020: Considere as seguintes observações sobre a vida e a obra de Machado de Assis.
QUESTÃO DISPONÍVEL EM:
- Prova Mackenzie 2020 com Gabarito e Resolução
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